No noite de ontem durante apresentação de dois policiais civis em uma grande universidade privada do Rio de Janeiro, pude ver "in loco", que a máxima - "Segurança Pública tem saída "¹ - apresentada pelo eminente professor Luiz Eduardo Soares, pode estar se tornando uma verdade em alguns lugares. Explico-me: no livro, percebi empolgado que a reflexão ali realizada construía cenários e defendia propostas que visam mudar o quadro geral de políticas de segurança no Brasil. Na reunião que participei ontem , até muito tarde da noite, com os integrantes do projeto "Papo de responsa", Inspetores Beto Chaves e Waguinho, num auditório repleto de jovens estudantes e trabalhadores, experimentei claramente a sensação de que com um pouco de boa vontade é sim possível mudar o lastimável quadro atual.
Neste sentido, devo dizer que todos os dias o que vemos na televisão e nos jornais em geral é a imagem de uma polícia bélica, sem preparo, contida numa eterna e repetida política de desrespeito aos cidadãos e seus direitos. Observamos também uma sociedade que embora cobre mudanças não promove seu próprio papel de fiscalizador e, por vezes, se junta aos policiais ruins para conseguir alguma vantagem, seja ela deixar de ser rebocado por estacionamento ilegal ou mesmo tentar corromper o "polícia" para que ele não reprima alguma outra conduta ilegal mais tolerada.
Na palestra que assisti, um ainda jovem policial falava em tom ameno sobre condutas, expectativas, direitos humanos, reformas na polícia e na sociedade. Aquele sem dúvida não é o esteriótipo de policial que acostumamos ver. Afirmo, sem medo, que aquele homem educado, com traje asseado, que utilizava metáforas para apresentar seu ponto de vista é um novo modelo de servidor da segurança. Creio que a sociedade deva conhecer ações como aquela para saber que é sim possível mudar paradigmas. Da platéia atônita, uma senhora diz que não gosta de policiais, pois todos os dias na comunidade em que trabalha como agente de saúde vê extorsões, agressões e violações de toda ordem sendo praticadas pela polícia, mas, que, sem dúvida, esta nova mensagem que presenciava permitia a ela agora dizer que continuava com o "pé atrás" todavia tinha certeza que estava conhecendo dois policiais bons e diferentes e apelava para que eles e os que ali estavam propagassem aquilo pois, aquele sim, é um servidor policial que tem a legitimidade para ostentar e dizer que cumpre o lema:" servir e proteger."
O "papo de responsa²" é uma iniciativa criada pelo Inspetor Roberto Chaves³, que é meu amigo de longa data, e que hoje conta com cerca de dez outros policiais que, junto com ele, de forma voluntária. praticam o bem e propugnam um novo diálogo sociedade-polícia. Eles apresentam uma "versão policial 2.0 "que fala em direitos, deveres, reforma, cidadania e muitos outros conceitos que cabe a sociedade abraçar tendo a polícia como uma aliada.
No caso em tela, os policiais permitiram-se um duplo papel que é o de ser cidadão e profissional de segurança, pois além de fazer sua difícil tarefa também se colocam no papel daqueles para quem esta tarefa é executada, e assim promovem uma atuação crítica que faz evoluir a sua atitude em relação a sociedade e a polícia. Parabéns! Um novo país precisa de um novo diálogo com a polícia, um novo "papo de polícia" e para isto é necessário que a instituição policial apresente uma nova linguagem. Pelo que narrei e vi parece que alguns policiais estão neste caminho e em breve, quem sabe, poderemos ver novas saídas e soluções para a segurança pública em todo o Brasil.
* Everton Gomes, Diretor do Sindicato do Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (SINDPOL-RJ), Mestre em Ciência Política e Bacharel em Direito, além de estudante do Curso de Especialização em Segurança Pública, Cultura e Cidadania da UFRJ.
¹SOARES. LUIZ EDUARDO. Segurança tem saída.Rio de Janeiro,Sextante, 2006.
²PAPO DE RESPONSA. http://www.papoderesponsa.com.br/, acesso em 19 agosto de 2012.
³BETO CHAVES.http://www.capitaoassumcao.com/2011/01/beto-chaves-o-homem-atras-do-fuzil.html, acesso em 19 agosto de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário