A repetição de cenas de
agressão e violência praticadas por integrantes da Polícia Militar contra
cidadãos de diferentes partes do Brasil é uma cena infelizmente comum, mas que
nos choca profundamente e merece ser exaustivamente rechaçada e denunciada.
Desta vez dois casos chamaram atenção: um na Fazendinha, comunidade que integra
o Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, o outro ocorreu em uma favela de
Maceió, em Alagoas.
No caso do Rio é
interessante notar que segundo dados da própria “PM” desde a recente
pacificação não aconteceram homicídios no Complexo do Alemão. Quis o destino
que a mão no gatilho que fez a primeira vítima fatal naquele lugar depois da
UPP instalada fosse de um integrante da tropa que deveria servir e proteger
àqueles que ali estão.
Os casos são recorrentes, a
violência é de igual teor, os territórios são os mesmos – favelas, morros ou
vilas – em que a pobreza se faz presente. Quando é que concretamente as
polícias irão reconhecer que seu modelo está ultrapassado? Mais quantos jovens pobres precisarão ser
executados e torturados? Civilização e barbárie são antônimas segundo a norma
culta da língua portuguesa. Lá no dicionário é possível verificar que ambas as
palavras possuem significados opostos. A primeira inclui os bem educados, os
que vivem em sociedade. Em suma, os que se adequam a padrões pré-estabelecidos
socialmente. Pelo contrário, barbárie é o estado em que vivem os bárbaros e
este são aqueles sem cultura, sem civilização, violentos, cruéis, isto é, os
que não se adequam a sociedade.
O texto aqui proposto
gostaria de ver a polícia como garantia de bem – estar, da liberdade, promotora
da cidadania e da paz social. Infelizmente, o modelo que perdura há séculos nas
nossas instituições prima em fazer de policiais verdadeiros agentes da
barbárie. Volta-se a questionar: até quando?
Sei que nos últimos anos
muito se avançou, mas, é pouco. A reforma feita até agora no aparato de
segurança é insignificante. É urgente uma mudança completa, pois, somente assim
poderemos, sociedade, voltar de fato a conhecer na polícia um aliado. Hoje,
para a tristeza geral da nação, o que se vê é um aparato repressivo que serve a
muitos interesses, todos muito distintos do que deveria ser seu objeto.
Na sociedade espetáculo, a
polícia mostra, hoje, mais um filme de violência desmedida. O conjunto social precisa
tomar pra si o comando, reescrevendo o roteiro de forma que as cenas que se
avizinham apresentem uma polícia diferente, cidadã.
*Everton
Gomes, Inspetor de Polícia Civil, Mestre em
Ciência Política e Bacharel em Direito. Aluno do Curso de Especialização em
Segurança Pública, Cultura e Cidadania da UFRJ. (evertfnd@yahoo.com.br)
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