quarta-feira, janeiro 09, 2013

Quem é o verdadeiro “homem-zumbi”?






Trafegando pelo Rio 40◦ a bordo de meu Jeep Bandeirantes, já não tão desbravador como outrora, por conta do seu tempo de estrada e pela falta de tempo deste piloto, não pude deixar de ver aquilo que ninguém quer enxergar. Vi um homem-zumbi vagando desorientado lentamente pela Avenida Brigadeiro Trompowisck, antessala do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim – Galeão, a mais frequentada porta de entrada do Brasil, no Rio de Janeiro.

 A cena digna das melhores películas “holiudianas” de terror era trabalhada em meu olhar sob o calor de um verão carioca, que naquele dia inspirava o sol a fazer ferver os miolos de qualquer mortal. Ainda mais sendo a bordo do meu possante, que pra variar esta com o ar-condicionado quebrado.  Aquilo a frente de meus olhos não era um ser imaginário como os do cinema, não, pelo contrário, a realidade ali era gritante, os tons de cinza e preto e branco da tristeza daquele ser vagante eram vistos com todas as cores propiciadas por uma grande cidade desumana e que tem naquele zumbi-homem, a expressão de um dos seus mais graves problemas urbanos do cotidiano.

E quem é aquele homem-zumbi? Ele é para muitos apenas um problema, para outros um ser insensível entorpecido pelas circunstâncias, uma estrela do caos, ou, quem sabe: poderia-se dizer: um promotor de sentimentos de repulsa, revolta, incômodo. Retrato de uma triste realidade e de um incerto futuro. Degenerado? Desgraçado? lixo. Cracudo, craqueiro, drogado! Pobre viciado, ou viciado pobre! Homem-zumbi, zumbi-homem! Mas de fato quem era aquele homem?

Muitas pessoas olham àquele homem-zumbi e se apressam em dizer que ele é produto do vício do crack. Eu discordo! Aquele homem é muito mais que isto. É um ser, abandonado pelos seus pares, desorientado por um mundo em que a lógica do capital é o grande barato. É um homem sem família, um filho sem pai, um amigo perdido, um pobre coitado. Ele pode ser qualquer um, até eu e você. Quem sabe? Ele é produto de milhares de mazelas sociais que no olhar menos auspicioso só o enxerga nas dimensões de uma sociedade opressora, reacionária. Ele é produto de uma sociedade que criminaliza a pobreza e lhes renega direitos apenas lhes imputando obrigações e deveres. Àquele homem é um andarilho, um sem eira-nem beira, qualquer. Ele esta desprovido de bens materiais e ilusões se alienando do mundo fazendo uso do que o mundo lhe dá.

Ele nada mais é que uma vítima de um sistema capitalista perverso que exclui, aliena e destrói milhares de outros homens, todos os dias e que até o fim deste dia destruirá muitos outros.

É necessário repensar políticas sociais com urgência. A lógica dos governantes não pode ficar regrada em enxergar as pessoas como números, como dados. Àquele homem-zumbi precisa ser tratado na complexidade de sua grandeza, enquanto ser. Os caminhos que nos fazem enxerga-lo apenas como um problema são as trilhas que promoverão novos problemas. Espero sinceramente que esta sociedade-zumbi mude e com isso deixemos logo de produzir homens-zumbi todos os dias. Àquele homem, sem erro posso lhes dizer, é produto da nossa insensatez, insensibilidade e do sistema que adoramos idolatrar, pois nos dá a liberdade, a propriedade, os eleitores-zumbi e o “maquidonaldes”.

Everton Gomes (33), Bacharel em Direito, Mestre em Ciência Política e editor do Blog na luta!
Foto: Everton Gomes, arquivo pessoal.


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