Trafegando pelo Rio 40◦ a bordo
de meu Jeep Bandeirantes, já não tão desbravador como outrora, por conta do seu
tempo de estrada e pela falta de tempo deste piloto, não pude deixar de ver
aquilo que ninguém quer enxergar. Vi um homem-zumbi vagando desorientado lentamente
pela Avenida Brigadeiro Trompowisck, antessala do Aeroporto Internacional
Antônio Carlos Jobim – Galeão, a mais frequentada porta de entrada do Brasil,
no Rio de Janeiro.
A cena digna das melhores películas
“holiudianas” de terror era trabalhada em meu olhar sob o calor de um verão
carioca, que naquele dia inspirava o sol a fazer ferver os miolos de qualquer
mortal. Ainda mais sendo a bordo do meu possante, que pra variar esta com o
ar-condicionado quebrado. Aquilo a
frente de meus olhos não era um ser imaginário como os do cinema, não, pelo
contrário, a realidade ali era gritante, os tons de cinza e preto e branco da
tristeza daquele ser vagante eram vistos com todas as cores propiciadas por uma
grande cidade desumana e que tem naquele zumbi-homem, a expressão de um dos
seus mais graves problemas urbanos do cotidiano.
E quem é aquele homem-zumbi? Ele
é para muitos apenas um problema, para outros um ser insensível entorpecido
pelas circunstâncias, uma estrela do caos, ou, quem sabe: poderia-se dizer: um promotor
de sentimentos de repulsa, revolta, incômodo. Retrato de uma triste realidade e
de um incerto futuro. Degenerado? Desgraçado? lixo. Cracudo, craqueiro,
drogado! Pobre viciado, ou viciado pobre! Homem-zumbi, zumbi-homem! Mas de fato
quem era aquele homem?
Muitas pessoas olham àquele homem-zumbi
e se apressam em dizer que ele é produto do vício do crack. Eu discordo! Aquele
homem é muito mais que isto. É um ser, abandonado pelos seus pares,
desorientado por um mundo em que a lógica do capital é o grande barato. É um
homem sem família, um filho sem pai, um amigo perdido, um pobre coitado. Ele
pode ser qualquer um, até eu e você. Quem sabe? Ele é produto de milhares de
mazelas sociais que no olhar menos auspicioso só o enxerga nas dimensões de uma
sociedade opressora, reacionária. Ele é produto de uma sociedade que
criminaliza a pobreza e lhes renega direitos apenas lhes imputando obrigações e
deveres. Àquele homem é um andarilho, um sem eira-nem beira, qualquer. Ele esta
desprovido de bens materiais e ilusões se alienando do mundo fazendo uso do que
o mundo lhe dá.
Ele nada mais é que uma vítima de
um sistema capitalista perverso que exclui, aliena e destrói milhares de outros
homens, todos os dias e que até o fim deste dia destruirá muitos outros.
É necessário repensar políticas
sociais com urgência. A lógica dos governantes não pode ficar regrada em
enxergar as pessoas como números, como dados. Àquele homem-zumbi precisa ser
tratado na complexidade de sua grandeza, enquanto ser. Os caminhos que nos
fazem enxerga-lo apenas como um problema são as trilhas que promoverão novos
problemas. Espero sinceramente que esta sociedade-zumbi mude e com isso deixemos
logo de produzir homens-zumbi todos os dias. Àquele homem, sem erro posso lhes
dizer, é produto da nossa insensatez, insensibilidade e do sistema que adoramos
idolatrar, pois nos dá a liberdade, a propriedade, os eleitores-zumbi e o
“maquidonaldes”.
Everton Gomes (33), Bacharel em
Direito, Mestre em Ciência Política e editor do Blog na luta!
Foto: Everton Gomes, arquivo pessoal.
Foto: Everton Gomes, arquivo pessoal.
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